sexta-feira, 18 de setembro de 2009

BATE FORTE O CORAÇÃO

De como a repetição é apenas uma forma de gravar no fundo do coração o que é importante e precisa durar toda uma vida e que os psicólogos chamam de condicionamento operante.


Jesuíno jardineiro ouviu, depois, os gritos da mulher chamando para tomar o café da manhã. Aqueles gritos meio ralhados, como parecendo de impaciência, que ele atendia sem tardança que também eram bem gritados na hora certa, traduzindo muito carinho de amor, porque enquanto ele Jesuíno se entregava às suas plantas, ela, na cozinha, fazia o melhor para o seu bem querer, que era mesmo o Jesuíno, que não fora a compreensão dela, de sacrificar um que de aspiração de sua vida própria, jamais ele poderia dedicar-se à sua rosa azul, que era dela também.

Era assim. Ele levantava mais cedo para cuidar das plantas, passar horas com suas rosas no seu caramanchão e depois ia tomar café com sua mulher, comer broa de fubá assado com muito carinho por ela, tão somente, para ele, mandioca cozida passada no mel e o tomar leite da cabra Carol. E era o momento de eternidade de convivência em que trocavam algumas palavras, afora as que não precisavam de serem ditas, que os gestos, os olhares, a respiração para não dizer os suspiros diziam muito mais, e às vezes contavam os seus sonhos da noite.

E foi, justo nesse momento, que o Jesuíno jardineiro, um tanto sôfrego, contou para a mulher que sentiu uma coisa estranha naquela manhã. Assim, uma espécie de momento mágico, como se alguém estivesse ao lado dele o tempo todo, ouvindo o que ele estava dizendo para as suas plantas, que na verdade, estava dizendo para si mesmo.

Seu coração batia forte, tanto que ele evitava olhar para os lados, mais para não espantar aquela sensação gostosa. Parece que ouviu algumas vezes raspar de garganta. Sentiu certa mão quente pousada suavemente no seu ombro. Num momento, chegou a perguntar não há de quê, tudo bem. Pensou que ouviu de resposta, um tudo bem. Mas só foi prestar atenção depois que cumpriu um comando de voz, para que ele ensinasse o caminho do Palácio “A M A R E L O “.

Confessou para a mulher que não reconheceu a voz e nem reconheceu a pessoa que se retirou, virando-lhe as costas. Aliás, só a vira mesmo de costas. E mais, a luz do Sol nascente atrapalhava, porque parecia haver produzido, naquela pessoa, um círculo de luz em torno de sua figura. Era efeito, com efeito, da luz do Sol.

Parecia sonho. E o pior é que o Jesuíno jardineiro, como confessou para esposa, havia falado coisas que há muito pensava, mas que ainda não tinha transformado em palavras. Só esperava que não passasse de coisa de gente de idade que fica falando para si mesmo.

- E se não foi nada mágico e for gente do Palácio?

Quem ficou apreensivo foi a mulher, Yone, a quem o marido, às vezes interrompia dizendo “Al”, o que quer dizer “outra coisa” e começa a frase com o “se”, que ele pronunciava fechado “si”.

- Não há de quê, “Al”, “si”, Yone, houve mal entendido o que há se fazer.

- É esta moda sua de só dar importância ao que você está fazendo como se ninguém mais existisse!

- Não há de quê, “Al”, nada de ruim não. O coração não pode ter se enganado. O batido dele não era de confusão, mas de paz. Durante todo o tempo que eu senti como se alguém estivesse ao meu lado, eu fui tomado de confiança, de coragem mesmo, e fui dizendo tudo aquilo que o coração pedia para dizer.

- Você vai ver! Tudo vai ser diferente daqui por diante! Você vai ver!

- Não há de quê, “Al”, não pode ser para o mal. Só para o bem.

- É a gente sabe que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados segundo o seu propósito, mas tem que ter tento. E parece que desta vez você não teve. E se for alguém do Palácio?, Repetiu a mulher.

- Não há de quê, “Al”, si, ó, Yone, for como você pensa, o mais que pode ocorrer é a gente perder este lugar de morada e eu ter que levar a minha planta da Rosa Azul, porque as outras não vão dar para levar não.

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